A fala de João Paulo Ferreira, morador do interior de Arroio Grande, em entrevista ao repórter Douglas Dutra na reportagem da página 9 da edição de ontem do Diário Popular é um sintoma de uma situação que há muito tempo vem se desdobrando: vai sendo cada vez mais difícil sobreviver na zona rural dos Municípios. Um êxodo praticamente forçado pela falta de infraestrutura básica e de oferta de qualidade de vida a essas pessoas. Um tanto, pela falta de interesse e talvez de atratividade para empresas do setor privado. Mas a maior parte, pelo fato dos poderes públicos constantemente fecharem os olhos para essas regiões mais afastadas.

O relato dele é facilmente reproduzido em tantos outros rincões da Zona Sul. Conta sobre como a filha teve que sair de casa pela dificuldade de acesso viário à escola, causado pela péssima estrada e pelas longas distâncias. Sobre a inviabilidade causada pelos problemas de distribuição de energia elétrica. Sobre a sensação de descaso. "É bem difícil nós na campanha, nós levamos pau, como se diz, de tanto que sofre. E acho que o resto do pessoal tá na campanha de teimoso sofredor, porque não há condições", lamentou o homem na fala.

A condição de vida no campo é realmente complexa. Basta uma reflexão ou uma conversa de alguém "de fora" que se nota isso. As distâncias, em si, são bem menores com os adventos tecnológicos. Ainda assim, um simples sinal telefônico por vezes é difícil. Acesso a água potável encanada também, com muitos ainda dependendo de cacimbas. Quando há vendaval, nos últimos tempos regiões rurais ficam semanas sem luz. E, além de tudo, vivemos em uma época de extremos climáticos em que uma perda de uma lavoura inteira está sempre à espreita, seja pelo excesso de chuva, seja pela falta dela.

A sensação, não apenas de abandono, mas de falta de pertencimento às suas cidades, é quase inerte às populações rurais e parece se ver pouco ou nenhum trabalho por parte das lideranças políticas para tentar reverter esse quadro. No ritmo que se anda, o pequeno agricultor será cada vez mais sufocado. Programas que estimulem a permanência e incrementem a qualidade de vida para essas populações são fundamentais já que a história mostra que grandes êxodos rurais andam em conjunto com outros problemas sociais, entre eles, o potencial desabastecimento de alguns produtos que só o campo pode nos dar.